A DOENÇA MERCADORIA

A  DOENÇA  MERCADORIA

 

A doença das pessoas – e elas não sabem – no sistema capitalista, modelo neoliberal, é considerada mercadoria ( tipo matéria-prima), igual a móveis das lojas ou produtos  dos supermercados ( compra, venda e lucro).

Assusta e enoja que seja assim, mas é desse modo que age  o sistema capitalista, na área da saúde ( ou manutenção de doenças prolongadas).

O livro “A política a serviço do mercado”, escrito por Colin Leys ( professor emérito de ciência política na Queen’s University, Canadá, e  em universidades da  Grã Bretanha, Quênia e Uganda , editora Record, afirmando que no terceiro ano de mandato de  Margarete Thatcher, 1982, o gabinete considerou várias opções para privatizar a assistência médica, fazendo com que no serviço público de saúde, aumentasse tempo de espera nas consultas especializadas, faltasse leito em hospitais, enquanto o serviço privado e seus hospitais, terceirizaram serviços hospitalares, expandiram-se os  planos de saúde privados e os hospitais privados tiveram crescimento de 53% ( cinquenta e três por cento) no seu faturamento. Aqui os médicos especialistas foram substituídos por clínicos gerais e pacientes em situação de emergência submetidos à triagem prévia, antes de encaminhamento aos especialistas.   

Isso parece utópico até que  um exemplar da revista Hospitalar, abril 2015, na qual aparecem pessoas ligadas aos hospitais Bandeirantes, Beneficência Portuguesa São Paulo, Moinhos de Vento, Mãe de Deus, Oswaldo Cruz, Sírio-Libanês, Albert Einstein, entre outros, a qual noticia que Brasil e América Latina tem o maior mercado de dispositivos médicos ( tecnologia), sendo a oitava economia no mercado mundial.

Essa revista enaltece o melhor da indústria brasileira de saúde, fazendo crer que produtos médico-hospitalares  determinam a  saúde das pessoas.

A presidente e fundadora da  revista – Walesca Santos – em editorial, afirma que o momento – crise brasileira – é dos hospitais para concluir que conhecimento é poder; e esse poder, hoje, está com os hospitais.

Não faz muito,  pessoa ligada a grande hospital, afirmou  que o administrador se gabava de ter comprado máquina de ressonância caríssima e reunia-se com médicos para lhes exigir  prescrição de mais  ressonâncias ( e menos raio X ou ecografia) pois precisava honrar o compromisso de pagar o alto valor do investimento. Ou seja, não se devia fazer ressonância porque a doença do paciente exigia mais sofisticação tecnológica, mas porque precisa honrar os compromissos de pagamento do instrumental adquirido.

Esses são os tristes fatos.

Menos de 40 anos atrás era difícil, em final de semana, encontrar uma farmácia aberta para comprar medicamentos. A imprensa até noticiava, durante a semana, qual estabelecimento estaria de plantão.

De 1980 para cá, surgiram centenas de lojas  - ditas farmácias - para vender medicamentos, chegando-se ao ponto de existir farmácias até nos postos de combustíveis. É desse período para cá que surgiram tantas “novas doenças”.

Paradoxalmente, farmácias  estão lotadas de medicamentos e as pessoas cada vez mais doentes.

Não se pense que de 1980 para cá se inventaram novos medicamentos, após longas pesquisas. É que criaram-se    os genéricos, desdobramento de um ( com determinada composição química)  para vários outros ( com mesma composição química, só que diminuída a dosagem desse composto). Explico: por exemplo, existia o bactrim ( antibiótico ou antinflamatório) desdobrado em mais oito genéricos, mudando-se apenas nomes e fórmula  incompleta.

Assim é que os cardíacos, muitas vezes, ingerem excessiva carga medicamentosa, ao menos tempo: losartana, enalapril, anlodipino, pressat, atenolol, hidroclorotiazida e sinvastatina, ou também glucosamina e farvarina, quando, em verdade, são nove nomes diferentes, mas apenas duas formulações químicas  ( princípio ativo de  vasodilatador e  diurético, entendidos em sentido amplo, orgânico).     

E adoção de genéricos, autorizados pelos governos, permite que pacientes do sistema público, quando necessitados, em prontos socorros ou hospitalizações, os recebam em quantidade diminuta e quando detentores de planos de saúde privados, os recebam mesma quantidade, só que trocando-se  nomes ( exemplo, sinvastatina por sinvascorlosartana por aradois ou puran por  levoid ou synthroid), que as pessoas – pacientes ou familiares – raramente sabem disso.  Isso só aumenta lucro da indústria química, pois entrega-se remédio mais barato como se estivesse ministrando o de melhor formulação química, mais caro.

Não é diferente os exemplos de cirurgias desnecessárias ou sem nenhuma eficácia verdadeira ( não sem antes haver terrorismo psicológico, consciente ou não,  sobre a gravidade – fictícia -  da doença) só para arrecadar dinheiro ao custeio do caríssimo  instrumental tecnológico.

Quantas pessoas fizeram cirurgia de varizes,  hemorróidas, túnel do carpo ou , ligamento manguitos dos braços, hérnias inguinais ( três ou até quatro vezes), retirada de amigdalas, vesícula biliar, ovários, útero e próstata,  quando, tratamento mais criterioso as dispensariam, tanto que não melhorou a condição ou qualidade de vida  desses pacientes.

Por isso os prognósticos prolongados, artificializando doenças sem sintomas.

A doença passa a ser matéria-prima indispensável ao sustento da indústria química, tecnológica e tantas outras, com o apoio, consciente ou não, de profissionais formados em medicina, sedizentes médicos, quando não os próprios ou familiares são donos ou sócios dessas  indústrias.

Caxias do Sul, 15 de maio de 2015

 

Mestre Shen

Sinaten 01895